quarta-feira, 13 de fevereiro de 2013

Todo mundo tá dando palpite na ABU e agora?


Meu primeiro post podia ser resumido em uma frase: ouça todos antes de fazer! Infelizmente, devido ao meu pouco poder de síntese, deu duas páginas. Escutar é fundamental, todavia, este post irá tratar do momento em que temos que ouvir tantas pessoas que ouvir passa a ser um problema sério.
Bem, uma coisa comum a todo ABUense é a capacidade de dar palpites. Eu mesmo, nesse momento, estou dando palpites para você... O que pode estar complicando ainda mais sua vida. Mesmo assim, continuarei a dar palpites, afinal, acho que palpitar é amar: quem ama, palpita; quem não ama, vê vídeo-show enquanto eu dou palpite. Portanto, os palpites surgem, em sua maioria, do amor das pessoas pelo que estamos fazendo, não podendo jamais ser desprezados.
Queria que fosse fácil assim, mas não é. Como líderes e integrantes ativos de uma ABU, devemos sempre temer os conselhos de antigos ABUenses. Eu sei que dessa forma estou dando um tiro no pé dos meus futuros conselhos, todavia é de regra que as pessoas que formaram e participaram da ABU tenham sonhos e desejos com a ABU de suas épocas. Aquilo que era bom! Eram sábios, engraçados, o grupo era pequeno (ou grande), havia mais confraternização... Talvez tudo isso seja verdade (ou não). Todavia, o fato é que esse tipo de comentário pode gerar uma idealização de uma ABU de outra época... Devemos entender que a ABU cresceu e envelheceu. Aquela tão sonhada ABU não mais retornará... Entretanto, tenho certeza que um dia você verá a beleza da ABU de seu momento. A ABU pode melhorar sempre, mas, tenho certeza, ela é muito boa do jeito que é... espero que possam curtir o movimento agora, enquanto estão envolvidos no mesmo, e não esperem envelhecer para ver o quanto foi bom...
Outro conselho que devemos tomar cuidado é o demasiadamente revolucionário. De vez em quando cai um líder em potencial dentro da ABU. Este, sem conhecer nossa tradição, sem conhecer o que somos, tenta trazer seus ideais, que geralmente são uma reprodução de sua igreja dentro da ABU. Claro que a ABU não deve negar a tradição de ninguém, nem ignorar conselhos, mas há um limite tênue, mas visível em longo prazo, em ser ABU e em ser núcleo de uma igreja. Dirigir um estudo é muito diferente de pregar, então devemos fugir da tentação de fazer um “sermãozinho” para os participantes. O líder do grupo de estudo não fala o tempo todo, mas conduz a discussão, fazendo com que todos participem e sejam respeitados nas suas opiniões. Uma das grandes vantagens de um estudo bíblico em pequenos grupos é que cada pessoa tem a chance de ler o texto, refletir e participar expressando sua opinião. Claro que devemos trazer coisas novas para nosso grupo de ABU, mas devemos tomar cuidado com conselhos que descaracterizam por completo o modelo de ABU que você tinha ao assumir, pois desrespeita tudo que fora feito até então.
Bem, até agora falei do problema da nostalgia dos mais velhos e da revolução dos mais novos (que tendem a reformular a ABU no molde de suas igrejas). Agora, tratarei do problema do excesso de palpites de outra forma: por que você não gosta de ouvir os outros?
Cada um tem sua resposta para essa pergunta e, em regra, ela vem de supetão: “Sou ótimo ‘ouvidor’ ”. Ninguém fala que não. Em regra, achamos que somos pessoas boas demais para ignorar os outros. Todavia, você já percebeu que em uma reunião quando alguma pessoa está falando você está anotando ou pensando em outra coisa? Ou em uma apresentação em grupo, você fica pensando em como irá se apresentar e não escuta os demais? Nestas apresentações, se alguém perguntar o nome de qualquer pessoa nova que se apresentou você se lembrará? Você não se lembra do nome dos outros por que é esquecido ou sequer deu ao trabalho de ouvi-lo? Você já pediu conselhos sobre sua ABU para alguém? Você vai a treinamentos, fala o que tinha que falar e depois vai embora, ou fica conversando no fundo? Você gosta de escrever em blogs ou no face, mas nunca leu posts de ninguém? Você fica olhando em volta quando falam com você? Alguém já lhe perguntou: “Tá me ouvindo”? Se sua resposta é sim em algumas dessas perguntas, certamente você não é um bom ouvinte. E, lembre-se, ser tímido e falar pouco não é sinônimo de ser bom ouvinte. Eu me encaixo nesse perfil e, às vezes, fico pensando por que “A Caverna do Dragão” não teve o episódio final enquanto pessoas falam comigo (sobretudo no telefone).
A segunda pergunta que deverá ser feita é: por que não sou bom ouvinte? Cada um tem seu motivo, mas eu acho que um deles tem se sobrepondo na liderança “gospel”: a tirania. Em regra, somos acostumados a crentes fantásticos! Nosso pastor é um exemplo de integridade, de bondade, de fama, de capacidade de arrumar mulheres bonitas, de ser profeta apaixonado, de oratória, de liderança e alguns ainda pregam, compõem, cantam e dançam... são grandes exemplos de vida! E nós, assim que assumimos qualquer liderança, tentamos refletir esses altos padrões de seres intocáveis. Todavia, se realmente nos julgarmos, veremos que somos incapazes de reproduzir tamanha perfeição (claro, há os arrogantes que se acham tão bons que realmente acreditam que chegaram a ser grandes exemplos... em relação a esses, este post não se aplica... só oração braba se aplica). Então, ao percebermos nossas falhas, acreditamos que somos inferiores por não conseguirmos refletir aqueles padrões irreais da igreja. Temendo que os outros percebam, uma reação natural é a defesa de qualquer crítica, evitando ouvi-la, ou desprezando, ou respondendo-a agressivamente, para que nossas falhas não sejam escancaradas aos nossos liderados: tudo passa a ser, então, do nosso jeito (o que, estupidamente, eu chamo de tirania gospel).
Para resolver este problema, primeiro devemos entender que a vida é marcada pela simplicidade. A vida verdadeira se esconde na realidade mais frágil. Os que se encantam com as sofisticações e grandiosidade de algumas igrejas atuais não conseguem enxergar a beleza que mora na coisa efêmera e defeituosa chamada ser humano. É necessário um olhar singelo para perceber a graça que há no comum. Entenda a falha humana, que você nunca será e nunca foi grandioso. Só assim você entenderá conselhos e críticas, pois elas, em regra, vêm de pessoas que querem lhe ajudar e se importam a ponto de apresentá-las. Esforce-se sempre para escutar e pensar antes de responde-las... “Por que Deus amou o mundo de tal maneira que mandou seu Filho”, “Você está em pecado diante de sua liderança” e “Jesus te ama” são boas respostas para algumas coisas, todavia não são respostas para tudo... Então pense, e evite ser agressivo com críticas e dúvidas!
Ouvir é ruim, mas é importante para se tornar um líder eficiente da ABU. Precisamos ouvir pessoas para liderá-las. Se liderar é, singelamente, influenciar, só há como influenciar se entendemos quem estamos convivendo. Um dia minha amiga chegou para mim e falou: “não aguento mais ouvir pregações sobre o filho pródigo”. Ora, a pregação do filho pródigo pode ser ótima para um recém-convertido e uma visão mais profunda será incrível até para um crente antigo, mas para uma pessoa que já vai a igreja há muitos anos ficar ouvindo sempre estudos de evangelismo talvez não seja adequado... Ouvir é fundamental, pois pode ser que seus membros estejam se sentindo só, estejam achando você muito tirano, estejam sobrecarregados, estejam apaixonados por uma menina que tem namorado... se você não perguntar, nunca vai saber. Devemos ouvir o grupo para saber discernir quais as necessidades e como resolvê-las. Saber as necessidades é fundamental, inclusive, para evitar que elas se acumulem! Diz o brocardo (um jeito chique de falar ditado popular): “Ouça os murmúrios para não ouvir, depois, os gritos”.
Saber ouvir, ainda, será uma oportunidade ótima de estabelecer uma relação de confiança e interligação entre as pessoas do grupo. O maior erro que temos como líderes é impor nossas ideias, evitando que outros se aproximem para nos ajudar. As pessoas querem ser ouvidas, pois ouvir é uma forma de respeitar e de deixar que se envolvam com o movimento. É uma via de mão dupla: quando alguém se sente compreendido, ele sente-se motivado para te compreender! É como uma pedra conversando com outra, as duas ficam estáticas... agora, se uma pedra conversa com o mar, o mar transforma ela em areia... pensando bem, essa ilustração foi horrível.
Ao se sentir respeitado, você sente importante e deseja fazer, efetivamente, parte daquele grupo. Se você se sentir desprezado, ignorado, provavelmente irá para outro local, onde faça a diferença. Ouvir, portanto, é uma forma de criar comprometimento das pessoas com a organização também.
Por fim, ouvir é a forma básica de expressar nosso amor por aqueles que lideramos. Liderar é se importar e, quando não ouvimos, não estamos apenas ignorando as pessoas, mas as estamos desprezando. O amor deveria nos capacitar para entender os outros, reconhecendo a verdadeira imagem do outro a partir de Cristo, sendo eles imagem que Jesus criou e ainda está transformando, devendo, portanto, ser respeitada. Não é isso que vemos hoje em dia em nossos núcleos e nossas relações afetivas, quando muitos relacionamentos visam à criação de nossa própria imagem na vida do outro, do que ele é e deverá ser, desrespeitando a própria subjetividade. Lembre-se que uma das melhores coisas que se pode dar a uma pessoa é a atenção, mas sempre respeitando a liberdade dela ser o que ela deseja ser, não o que você quer que ela seja.
Bem, então precisamos ouvir, certo? Mas, como? Olha, não há uma melhor forma de ouvir os membros do seu grupo do que ir até eles, em intervalos ou na hora livre, e puxar papo. Fazer reunião de confraternização também são adequadas, mas, geralmente, só vai quem já faz parte da “panela”. Em qualquer reunião individual, nunca comece apenas falando de ABU, afinal, você não pode ter apenas uma amizade profissional. Busque realmente ser companheiro. No grupo de Direito-Noturno-UFMG, nós tínhamos o “Ministro das Relações Interiores” que visitava e delegava visita para os membros do grupo (principalmente para aqueles que não tinham cargo de liderança e para os visitantes). Tínhamos algumas regras simples: 1- todo mundo deve ser visitado uma vez por semana; 2- a visita não pode ser vista pelo visitado como uma obrigação (nunca se conta que temos um plano de visitar uma vez por semana! Ministro das relações interiores é um cargo secreto); 3- nunca falemos exclusivamente de ABU; 4- nunca deixemos de falar da ABU; 5- uma pessoa nunca visita a mesma pessoa por 2 semanas seguidas.
Confesso que sou tímido e sempre decorei alguns diálogos antes de fazer essas visitas obrigatórias. Aos homens, eu sempre aparecia na sala deles e dizia: “Nossa cara, como você está? Viu o jogo do Galo?”. Com as mulheres sempre era mais difícil, pois as mulheres tem um leque de assuntos maiores, mas eu gostava de dizer: “Ei ‘She-ra’, tava andando por aqui. Como você tá? Gostando do semestre?”. Depois disso eu orava para a pessoa tomar a liderança da conversa.
Na ABU-BH, minha irmã Gab montou um esquema de ouvir os lideres de núcleos. Toda semana a Gab, que era Secretária de Oração (depois explicarei melhor essas secretarias malucas), ligava para um líder de núcleo, perguntava como ele estava, como estava o núcleo, quais os problemas estavam enfrentando, como poderíamos ajudá-los. Depois, minha irmã fazia um texto e mandava para o e-mail da ABU-BH, requerendo nossas orações. Isto parece algo pequeno, mas era fundamental para integração do grupo.
Nem sempre devemos ouvir apenas em conversas pessoais. Devemos ver se as pessoas também estão sendo ouvidas em grupos maiores, como reuniões de diretoria e, por que não, nos nossos núcleos de ABU. Uma forma que gosto de fazer é anotar o nome de todas as pessoas que estão naquela reunião. Anoto em circulo ou em quadrado, na ordem que cada um se assenta (isso ajuda principalmente se ainda não decorei o nome de alguém). Depois, marco um “tracinho” na frente do nome de cada um que toma a palavra, marcando quantas vezes ele falou na reunião. Assim, no meio da reunião tenho a ideia de quem não falou nada e de quem não deixou ninguém falar. Claro, há pessoas que não gostam de falar, então não as oprima com perguntas invasivas como: “O que você acha da dupla predestinação Calvinista?”. Todavia, mesmo essas devem ser alvo de nossa atenção, para que se sintam importantes: peça para ler algo, peça para ajudar a tomar notas, peça para orar (se ela gostar disso); faça jogos para integrar os participantes do núcleo...
E você? Tem muita gente dando palpite em sua ABU? Tem ouvido os integrantes de seu núcleo? Tem respeitado a subjetividade de cada um? Como você faz para ter certeza que todos são ouvidos? Tem algum caso para nos contar? Posta aí!

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